Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura Facebook ADCMoura

Resultados de inquérito sobre literacia digital, realizado no bairro do Sete e Meio, em Moura

1 maio 2020

Apesar dos progressos alcançados no incremento da digitalização e das competências digitais no nosso país, em 2016, 1 em cada 4 portugueses ainda não tinha acedido à Internet (26%) – fonte: Portugal INCoDe.2030.

No mesmo sentido, embora agravado, o inquérito realizado em 2018, em Moura, no Bairro do Sete e Meio, pela ADCMoura (Inquérito às necessidades dos habitantes por um bairro mais solidário e sustentável -iliteracia digital e participação), no âmbito do projecto transnacional My Smart Quartier / (Erasmus + K2), dava nota de que as tecnologias digitais não estão presentes na vida quotidiana de mais de metade dos 103 inquiridos (53%), ou porque não possuem as competências digitais básicas para aceder à Internet de forma eficaz ou, muito simplesmente, porque não possuem quaisquer competências digitais, sendo que entre o grupo de inquiridos idosos (65 anos de idade ou mais), na sua totalidade analfabetos ou que apenas sabem ler e escrever, a exposição à info-exclusão é total.

Por outro lado, no uso dado à Internet pelos cibernautas inquiridos, essencialmente pertencentes a faixas etárias mais jovens, que a utilizam de forma independente, sobretudo em casa e via smartphone, predomina o consumo passivo de conteúdo digital, correspondente a “pesquisas”, “redes sociais” ou “mú-sica, vídeos, videogames”, em contraste com a baixa utilização de serviços online (administração pública, homebanking, e-commerce), assim como com o pouco interesse suscitado por temas ou causas associados à cidadania democrática (e-demo-cracia, e-governança…), que exigem não apenas outra qualificação no domínio das tecnologias e aplicações digitais, mas também a capacidade e predisposição para interpretar, gerir e reflectir criticamente sobre a informação acedida. Sem surpresa, as principais dificuldades  prendem-se com a «Criação de conteúdo digital», a «Segurança» e a «Resolução de problemas», do-mínios que coincidem com as principais necessidades formativas identificadas pelos inquiridos.

Quanto ao exercício da cidadania, em ambientes offline ou online, cerca de 40 % dos inquiridos declaram não participar, sob qualquer forma, na vida da comunidade, sendo que a grande maioria dos que o fazem resume a sua participação ao voto em eleições (ambiente offline) ou ao activismo “like” nas redes sociais (ambiente online).

Os resultados do inquérito, coordenado a nível europeu pela ADCMoura e aplicado, para além de Moura, em bairros de Valência (Espanha), Turim (Itália) e Salon-de-Provence (França), foram apresentados, no passado mês de Março, em Valência, na Universidade Politécnica, no âmbito do evento de disseminação do referido projecto My Smart Quartier.

No essencial, confirmam a tese de Castells, M. 2001. A galáxia Internet), segundo a qual factores como idade, sexo, educação, rendimento, estatuto profissional, origem étnica, situação familiar / tipo de agregado familiar e geografia são promotores de situações de info-exclusão ou de acesso diferenciado às novas tecnologias. O inquérito confirma igualmente que as novas tecnologias podem facilitar a participação dos cidadãos, mas não a garantem, uma vez que o problema está relacionado com os factores de base que influenciam a participação ou podem levar à não-participação. Por conseguinte, entende-se que o comportamento on-line é uma consequência, uma extensão, do comportamento offline. Como afirma ainda Castells, M. (2001), “A Internet não pode proporcionar uma solução tecnológica para a crise de participação e da democracia”.

A partir destes resultados, estão a ser desenvolvidos, no âmbito do projecto, recursos pedagógicos para promover a literacia digital e a participação cidadã junto de grupos desfavorecidos das diversas comunidades participantes, área de intervenção que a realidade da actual pandemia veio tornar, mais do que nunca, pertinente.