Estamos em 1953. O Marcelino Morgado acabou
de fazer 10 anos e concluir a Instrução Primária.
É um rapazito igual aos do seu tempo, nascido na Amareleja, sem
grandes recursos e horizontes, a quem o destino reservou o abandono prematuro
da escola em troca do trabalho atrás de um balcão, como
empregado da casa Guinapo Feronha, onde se vendia de tudo um pouco. Mal
sabia que esta primeira experiência profissional iria ser o princípio
do resto da sua vida como comerciante.
Quatro anos volvidos, arranja emprego num armazém onde chega a
desempenhar funções de caixeiro-viajante. Aos vinte anos
o destino torna-se ainda mais implacável. É chamado a combater
em Angola, onde viu coisas de que não lhe apetece lembrar-se. Concluído
o serviço militar, surgem hipóteses de permanecer e trabalhar
em África. O Marcelino cria o seu negócio e a adaptação
parece fácil. Especializa-se na venda de brinquedos. Entre os produtos
que tinham mais saída, recorda, estavam os kits de modelos de aviões,
que importava da Europa. Entretanto, casa-se por procuração
com a Maria Teodora, uma amiga de infância que deixara em Amareleja,
e que vem juntar-se a ele em Luanda. Apesar de longe de casa, a vida decorre
tranquila e próspera para o casal, mesmo após o 25 de Abril
de 1974 ou quando da independência do país, ocorrida no ano
seguinte.
Mas em 1977, a decisão está tomada, a de regressarem a Portugal.
Vivem temporariamente em Lisboa, onde o Marcelino, uma vez mais, exerce
funções de caixeiro-viajante ao serviço de uma empresa.
Só em 1993 voltam em definitivo para a Amareleja, com o objectivo
de aí abrirem um estabelecimento comercial na área da confecção
e retrosaria.
Em 1997, surge a ideia de investir também no negócio da
venda de flores, de corte e envasadas, sem esquecer os produtos e acessórios
relacionados com a actividade. Era uma forma de o Marcelino e a Maria
Teodora colocarem em prática as competências adquiridas durante
a frequência de um curso de formação na área
dos arranjos florais e era ao mesmo tempo uma forma de gerar rendimentos
adicionais, bem como de contrabalançar os pontos fracos identificados
na actividade do “pronto-a-vestir”, traduzidos na menor rotação
dos produtos, reduzidas taxas de lucro e maiores riscos de investimento.
Mas apesar do sucesso da aposta e da fidelização de muitos
clientes, tanto na Amareleja como em Barrancos e Mourão, o Marcelino
e a Maria Teodora viam-se a braços com um problema por resolver:
a inexistência de condições para conservar as flores
de corte, que se encontravam ao ar livre, no quintal da habitação,
apenas protegidas dos rigores do clima por um telheiro de chapas de zinco.
Esta situação acarretava prejuízos consideráveis
e frequentes, sobretudo quando as temperaturas de Verão reduziam
drasticamente o prazo de validade das flores, levando à inutilização
de muitas delas. Fartos de ver murchar as suas flores antes do tempo,
o Marcelino e a Maria Teodora decidiram adquirir uma câmara frigorífica
e construir uma pequena área de serviço no quintal da sua
habitação para melhor receber fornecedores e clientes. Tudo
isto acabou por ser conseguido com recurso ao Microcrédito e com
o apoio da ADCMoura, permitindo, doravante, aos seus promotores trabalharem
com todas condições e numa escala maior e abrindo boas perspectivas
de expansão de um negócio com reduzida oferta a nível
local.
contacto
Marcelino Baleizão
Morgado
M
R. da Figueira, 2 7885-032 Amareleja
T
285982266 |