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Nesse
tempo ainda eram uns quantos. Para se ter uma ideia, só na vila
de Moura eram perto de cinquenta com oficina aberta. Porta sim, porta
não...Consertando calçado, mas sobretudo fabricando obra
nova, que é como quem diz obra grossa e obra fina feita de raiz.
Calçado para o trabalho, para andar por casa; mas também
calçado para a festa, para os dias assinalados. Isto era em 1930,
1940. De então para cá a realidade alterou-se de tal forma
que hoje encontramos apenas uma dúzia de mestres sapateiros em
actividade no concelho.
De entre esta
réstia de resistentes, há artistas com 50, 60 anos de actividade!
- veja-se o Ildefonso Aresta, o Manuel Mansos, o Romão, o José
Ganchinho, o Daniel Gouveia..., que, mal concluída a quarta-classe,
abraçaram o mister, como aprendizes, dando seguimento a uma tradição
familiar - e há também os que começaram há
pouco tempo, sem ninguém na família ligado à arte.
Está neste caso o Quitéria, de Santo Aleixo, que se estabeleceu
por conta própria depois de ter frequentado um curso de formação
profissional. Compreensivelmente, são os mais antigos os que menos
ilusões têm acerca do futuro da actividade, seja devido à
concorrência das indústrias, aos elevados custos de produção
do trabalho artesanal ou ao facto de já não haver ninguém
que queira dedicar-se a isto. Não fossem os consertos, uma gáspea
ali, umas meias-solas aqui, dar um ponto acolá, e há muito
que tinham fechado as oficinas. Os mais novos, o Jorge, o Quitéria,
sobretudo estes, sabem que ser sapateiro não é fácil,
nunca o foi de resto, mas também sabem que dá para governar
a vida e que os clientes não deixarão de aparecer desde
que se trabalhe com afinco e ofereça artigos e serviços
de qualidade. O resultado palpável desta vontade de singrar vai
surgindo com regularidade sob a forma de encomendas para fazer obra nova,
sobretudo botas caneleiras e botins.
A Acção
4 do RODA-VIVA, na sua actividade de apoio às artes e ofícios
do concelho, tem vindo a trabalhar juntamente com todos estes artesãos
no sentido de, por um lado, conhecer em detalhe os problemas e as potencialidades
relacionados com a actividade que desempenham e de, por outro lado, proporcionar
o escoamento das suas produções, através do acesso
a novos mercados, designadamente das áreas urbanas do litoral.
A aposta na promoção tem-se feito sentir sobretudo através
da presença em feiras, mas está-se a trabalhar igualmente
na elaboração de um catálogo e de um site para que
os efeitos desta estratégia possam ter maior alcance.
texto:
António Filipe Sousa |
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