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Primeiro
é a limpeza dos caminhos, para prevenir os incêndios, o amanho
das caixas e os cuidados com a varroa a dar que fazer ao abelheiro. Estamos
em finais de Janeiro. A partir daqui, para se conseguir uma boa safra,
é preciso contar, para além do saber e disponibilidade do
apicultor, com condições climatéricas favoráveis
à floração. Começam então as deslocações
constantes ao apiário, instalado neste cerro ou naquele outro outeiro,
a coberto de umas poucas de azinheiras e defendido dos ventos dominantes
por uma fiada de estevas e giestas. É um vaivém de canseiras,
ao sol e à chuva, por entre brenhas de matos, para seguir com atenção
a evolução de cada colmeia e de cada cortiço, um
trabalho que mais parece a rotina incansável das obreiras que vasculham
nesta e naquela flor de rosmaninho, murta, tomilho ou em outras manifestações
da Primavera o néctar com que elaboram o mel e o pólen que
constitui a reserva alimentar do enxame em períodos de carência.
Com toda esta azáfama, o apicultor quando dá por si já
está em Junho, às portas do Verão, que é quando
acontece a cresta. Munido de um fumigador para distrair as abelhas e de
vestimenta e máscara à prova de ferroada, não descansa
enquanto não substitui todos os quadros de favos carregados de
mel por quadros limpos. As abelhas bem podem zumbir e investir contra
o intruso, que isso não o demove em nada de cometer o seu roubo,
em pleno meio-dia, e de fazer a trasfega do produto do assalto para instalações
apropriadas onde tem lugar a centrifugação e a decantação.
E se houver vagar, com alguma cera crestada, ainda se faz uma água
mel do outro mundo, indicada para servir em refrescos quando o calor aperta
e a sede é muita.
texto:
António Filipe Sousa |
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