História de vida – Cátia Montes

Olá sou a Cátia Marisa Montes, tenho 35 anos, sou licenciada em Educação Social, sou bombeira voluntária, sou mulher cigana portuguesa.

Estudei até aos 15 anos, completei o 9º ano de escolaridade, era uma aluna mediana, sempre transitei, gostava muito da escola. Ao completar o 9º ano, sai da escola para trabalhar, a minha família sempre foi muito humilde e havia muitas necessidades.

Aos 28 anos surgiu uma oportunidade de voltar a estudar, o programa piloto OPRECHAVALÉ possibilitou a entrada a jovens ciganos no ensino superior.

Em 2015 candidatei-me ao curso de Educação Social através dos maiores de 23, não entrei por umas décimas, fiquei muito desiludida comigo mesma. Depois de chorar, decidi não desistir e continuar o meu caminho académico. Inscrevi-me em algumas disciplinas do curso como aluna externa para perceber como o curso funcionava. Em 2016 voltei a fazer exame e entrei com uma média de 16.

O meu percurso académico foi concretizado com sucesso nos 3 anos de curso e em 2019 terminei a minha licenciatura. No entanto, o caminho até lá chegar teve alguns dissabores.

Eu trabalhei enquanto estudava e não foi nada fácil conseguir conciliar, estudo,trabalho, voluntariado e a família. As questões monetárias também foram um entrave pois não tinha computador não tinha internet em casa, houve uma altura que o carro avariou e eu não conseguia ir as aulas.   

Ser uma mulher cigana a estudar numa universidade foi uma surpresa para todos tanto para a comunidade maioritária quanto para a comunidade cigana. Uns ficaram contentes por mim, outros nunca acreditaram que eu conseguiria, a minha família tinha algum receio que eu esquece-se as minhas origens e perde-se a alegria e o respeito de ser cigana.

Sendo ativista pelos diretos humanos entre os quais os diretos das comunidades ciganas e expressando o meu orgulho em ser quem sou, a minha família percebeu que nunca renegaria as minhas origens. Sendo mulher os obstáculos tanto na comunidade cigana como na maioritária são acrescidos, por um lado enfrenta-se o mito de que se estudar já não serei cigana, por outro enfrenta-se a discriminação e o racismo. Seja em que situação for o meu caráter e persistência tem me conduzido à concretização dos meus objetivos.

Eu sei quem sou, uma mulher cigana portuguesa com orgulho no seu percurso e origens e isso tem combatido muitos dos estereótipos que existem em toda a sociedade (cigana e não cigana).

Para os jovens ciganos deixo uma palavra de coragem e de sonho.

Coragem, para lutarem pelo vosso futuro por mais difícil que possa ser, pois lá na frente vai de certo valer apena cada lágrima e gota de suor que possam deitar. Nós nunca vamos agradar a toda a gente, por isso sejam fiéis a vós mesmos e lutem pelo vosso futuro.

Sonho, porque sem sonhos e objetivos não somos felizes, não tenham medo de sonhar acreditem que é possível alcançar sonhos.

Ser CIGANO é muito mais do que  dizem por aí, se nasces CIGANO tens na alma o que é necessário para lutar, vai à luta e vence.

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