Durante os próximos 18 meses, a ADCMoura e Rota do Guadiana irão dinamizar um novo projeto. O Pare, Escute, Olhe é uma intervenção, financiada pelo Programa Cidadania Ativa, domínio B, grandes projetos, que iniciou as suas atividades em Outubro de 2014.
A ideia de base foi construída ao longo de vários anos de intervenção no terreno, no âmbito do projeto Encontros que atua desde 2006 no concelho em prol da integração das comunidades ciganas locais. Inúmeras dificuldades se levantaram ao longo deste caminho, e com o projeto Pare, Escute, Olhe, pretendemos resolver algumas delas.
Assim…
“Pare” – Parte-se da ideia de que a sociedade precisa refletir sobre uma atitude generalizada de rejeição das comunidades ciganas, comunidades que pertencem de pleno direito a esta mesma sociedade. Parar e refletir porque continuar de olhos fechados no mesmo caminho é perigoso para o povo português, no seu todo.
“Escute, Olhe” – Refere-se diretamente à desconstrução dos preconceitos que pretendemos realizar ao longo de uma campanha de comunicação e de Workshops temáticos setoriais. O nosso objetivo é desmistificar ideias preconcebidas, assentas em falsos factos e dados errados visando desacreditar as comunidades ciganas.
Através de um conjunto de atividades dirigidas tanto à população em geral como a públicos diferenciados, pretende-se sensibilizar a sociedade para o tema da discriminação racial que visa em Portugal particularmente as comunidades ciganas.
De fato, a discriminação racial contra as comunidades ciganas é muito difundida na sociedade, e segundo José Gabriel Pereira Bastos, 80% da população portuguesa teria comportamentos ciganofobos (Portugueses ciganos e ciganofobia, 2012), levando o autor a criar e divulgar o conceito de ciganofobia – o ódio aos ciganos. Tal como outros comportamentos racistas e/ou xenófobos, estas atitudes assentam sobre tudo no desconhecimento, ou no mau conhecimento. A ignorância sobre a origem e a história do povo cigano ou ainda a má interpretação de certos traços culturais levam à construção de ideias falsas e negativas, por exemplo. Apesar de ser uma área de interesse académico e profissional crescente, existem, de fato, muito poucos recursos sistematizados sobre cultura e comunidade ciganas, sobre intervenção social setorial. Não existe, à imagem de outras áreas de intervenção, uma linguagem comum aos técnicos, o que impede uma intervenção harmoniosa. A nível nacional, só em 2013 foi elaborada a Estratégia Nacional de Integração das Comunidades Ciganas – ENICC, enquanto decorrem no terreno, localmente, intervenções desde pelo menos os anos 1990. Ao longo desses anos, numerosas foram as mudanças e adaptações dos ciganos à sociedade maioritária, mas poucas são conhecidas e ainda menos reconhecidas.
É, assim, um conjunto de atividades na sua maioria destinadas a sensibilizar a população em geral sobre estes aspetos que será lançado durante o ano e meio que dura o projeto Pare, escute, olhe. Existem ainda atividades de informação dirigidas aos membros das comunidades ciganas, sobre Direitos Fundamentais e seu exercício. Esteja atento à futura criação de um site internet Pare, Escute, Olhe; à criação de uma página Facebook, onde todos os materiais elaborados no âmbito da campanha serão divulgados, e outras iniciativas como seminários ou animações culturais…
No projeto Pare, escute, olhe, estão envolvidas 3 entidades locais, co-responsáveis pela dinamização das atividades: a ADCMoura é entidade promotora; procura aqui reforçar uma intervenção de terreno consolidada que carece de um suporte ideológico que permita alavancar mudanças profundas na sociedade; a Rota do Guadiana – Associação de Desenvolvimento Integrado, sedeada em Serpa, procura consolidar a sua intervenção junto das comunidades ciganas. A participação do Agrupamento de Escolas de Moura baseia-se na promoção intramuros, junto de aluno, professores e auxiliares, da diversidade cultural com vista uma melhor integração escolar dos alunos ciganos da escola. Ainda que esporadicamente, será chamada a participar no projeto a associação Letra Nómada, sedeada em Coimbra, entidade recentemente fundada com objetivo a promoção dos Direitos Fundamentais em Portugal, nomeadamente junto das comunidades ciganas.
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