Muitos dos edifícios da cidade e do concelho de Moura são de taipa, uma das técnicas de construção com terra crua. Gostaria de saber mais acerca deste importante património cultural do Alentejo – hoje, afinal, tão valorizado nos seus aspectos económicos, sociais e ambientais?
Não deixe de participar nesta Oficina Temática, sábado, 12 de Outubro, das 9.30 às 13h, na sede da ADCMoura. Inscreva-se aqui, sem custos.
Objectivos:
– Identificar as principais técnicas construtivas em terra crua e compreender as suas características;
– Identificar as características do material terra e compreender o seu potencial e as suas fragilidades;
– Adquirir noções de relação entre contexto (clima, tipo de solos, etc.) e técnica construtiva;
– Abordar princípios basilares de execução de algumas das técnicas construtivas que utilizam a terra crua;
– Compreender a pertinência da construção com terra crua na actualidade;
– Compreender as mais-valias da construção com terra em termos de desempenho, conforto e ambiente, mas também no campo socioeconómico, ético e cultural;
– Conhecer alguns exemplos de edifícios em terra crua ao longo dos tempos e em diferentes lugares do mundo;
– Compreender a contextualização das opções técnicas e arquitectónicas dos edifícios em terra na região de Moura;
Estratégias:
– Exemplos de obras e de edifícios;
– Apresentação de análises e ensaios laboratoriais para caracterização de terras;
– Debate sobre alguns exemplos apresentados e/ou propostos no momento (eventualmente, pela plateia);
Descrição:
A construção com terra crua estende-se por todo o mundo e por toda a história. É estimado que cerca de um terço da população mundial vive, trabalha ou desenvolve outras actividades em edifícios construídos em ou com terra crua.
Em Portugal, essa tradição está fortemente implantada, com particular destaque para a região sul do território. Após algumas décadas de estigmatização destas técnicas construtivas, o recente despertar global para as questões do ambiente e da sustentabilidade trouxe novamente a construção em terra crua para a linha da frente, num discurso que ultrapassa essa temática, tocando esferas como a da sustentabilidade cultural ou a das dinâmicas de economias locais, sobretudo no actual contexto de domínio quase exclusivo das preocupações económicas (financeiras) e dos meios estandardizados de competitividade acérrima. Assim, alguns exemplos de novas construções em terra crua podem ser referenciados no nosso país, de novo com destaque para a região sul.
Paralelamente a esta actividade de construção nova, uma grande intervenção junto do património popular, sobretudo de cariz privado, tem vindo a ser desenvolvida, nomeadamente na reabilitação, consolidação e/ou remodelação de antigos edifícios em terra. Sendo simultaneamente causa e consequência deste panorama, uma crescente oferta de mão-de-obra especializada percebeu a pertinência dessa especialização, e o mercado apresenta cada vez mais oportunidades para o sector da reabilitação, com um lugar intrínseco para o imenso património vernacular (mas não só) erigido em terra crua.
Animador da Oficina:
Miguel Ferreira Mendes (Lisboa, 1971) é um arquitecto que privilegia, nos seus projectos, uma abordagem bioclimática e a utilização de técnicas e metodologias sustentáveis e de materiais sãos, nomeadamente a construção com terra crua.
Licenciado pela Universidade Lusíada de Lisboa (1995), na opção de Reabilitação Arquitectónica e Urbana, foi bolseiro, ao abrigo do Programa Erasmus, na faculdade de Arquitectura do Instituto Politécnico de Milão (1992-93). Em 1995 obteve um Master’s Degree in Ecological Architecture, pelo Instituto de Arquitectura de São Francisco (EUA), em cooperação com a Biosphere2 (EUA) e a Fundação Convento da Orada (Portugal), onde executou as primeiras realizações de construção em terra crua. Obteve a especialização em Arquitectura de Terra (pós-master) na edição 2000-2002 do DPEA Terre no CRAterre – Escola de Arquitectura de Grenoble (França).
Em 1999 e 2000, integrou a equipa de projecto para a reabilitação do Castelo de Paderne – fortificação integralmente construída em taipa, no séc. XII.
Em 2003, foi um dos membros fundadores do Centro da Terra – associação para o estudo, documentação e difusão da construção com terra, que reúne muitos dos profissionais e académicos da área da construção com terra – organização da qual foi membro dirigente.
Desde 2005 tem desempenhado as funções de formador em diversas acções de formação para públicos genéricos e diferenciados – arquitectos, engenheiros, construtores, operários, particulares entusiastas, etc. – quer em Portugal quer no estrangeiro, e tem coordenado cursos, formações e obras de âmbito pedagógico de formação neste domínio, nomeadamente para populações de grupos de risco, visando a transmissão de conhecimentos e de competências, e o despoletar de mecanismos de auto-construção.
Escreveu vários textos e artigos sobre arquitectura e construção em terra e integrou o conselho editorial da obra de referência “Arquitectura de Terra em Portugal” (ed. Argumentum, 2006).
Realizou inúmeras apresentações e palestras em seminários e conferências em universidades, associações e outros organismos públicos e privados, em Portugal e noutros países, tais como Angola, Argélia, Cabo Verde, França, Haiti, Inglaterra, Itália e Moçambique.
Actualmente, é colaborador não-residente do laboratório CRAterre, enquanto perito enviado de missões no tema Habitat, do programa Arquitectura, Ambiente & Cultura Construtiva.