HOTEL SANTA COMBA, Praça Sacadura Cabral, nº 34 A
É o fonduq da Mouraria desde 2004, ocupando o primeiro andar de uma antiga residência senhorial que pertenceu aos morgados Cordovil.
Com o desaparecimento do último morgado, Francisco José Cordovil Caldeira Castel-Branco (1848-1909), a posse do edifício transita da família Cordovil para o casal Carapeto: Feliciana Carapeto e António José Lebre Carapeto.
Os irmãos José e António Pato são os proprietários que se seguem do conjunto edificado, cabendo ao primeiro a criação e gestão do hotel. Dispõe de doze quartos. Destaque para o tecto da sala onde são servidos os pequenos-almoços.
Além do hotel, constituem o imóvel os espaços comerciais do rés-do-chão: do Restaurante Intercontinental (início da Terceira Rua da Mouraria) à Barbearia Rola (nº 39 da Praça Sacadura Cabral).
O nome do hotel, relacionado com a bica de Santa Comba existente nas proximidades, alude à mártir cristã morta em França, na cidade de Meaux, no ano de 273: ao não aceitar renegar a sua fé nem desposar o filho do imperador Aureliano, Comba ou Columba acaba decapitada por sentença deste.
Uma série de acontecimentos miraculosos associados ao seu martírio contribui, a partir do século VI, para que o culto a Santa Comba se expanda por toda a Gália.
Daí estende-se à Hispânia, destacando-se, a partir do século VIII, como um dos elementos agregadores da resistência cristã à autoridade do califado de Córdova. O exemplo da mártir desperta outras Combas a abraçarem iguais histórias de heroísmo.
A mais célebre é vivida por uma monja beneditina do mosteiro de Tábanos, perto de Córdova, condenada à morte em 853 por desafiar a autoridade e religião islâmicas. O seu corpo decapitado lançado ao Guadalquivir é posteriormente encontrado intacto. E assim nasce a devoção a Santa Comba de Tábanos.
Em Portugal, encontramos variantes locais deste culto sobretudo a norte do Mondego, como Santa Comba Dão, Santa Comba da Serra ou Santa Comba de Basto.
Quanto a Moura, sabe-se que existiu, anterior a 1891, ano da reconstrução da bica, uma ermida consagrada a Santa Comba. No âmbito da campanha de obras da fortificação moderna de Moura (séculos XVI-XVIII), o templo foi demolido para dar lugar às casas do corpo da Guarda Principal, em frente à antiga porta do Carmo. O sítio é hoje ocupado pelo edifício conhecido por casa das Nunes (nº 4 da Rua da Vista Alegre).
Abastecida por uma das três nascentes que brotam no recinto do castelo de Moura e encimada pela estátua da mártir, a bica de Santa Comba situa-se no mesmo local do tanque recolector desenhado por Duarte d’Armas, em 1509 (ver Livro das Fortalezas, fac-simile do ms. 159 da Casa Forte do ANTT, fl. 9).
Filipe Sousa