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Moura a gostar da sua música e dos seus músicos: Luís Martins

 24 Junho de 2014

A chuva está para lavar e durar, mas agora abrandou até deixar de se ouvir na cobertura do terraço. Sentados num sofá, o Tiago e a Telma avaliam a consistência da trégua, entreolham-se, e decidem arriscar. Esta será a única gravação em casa do próprio cantautor. Chez Luís Martins, com diria Delphine, a sua cara-metade.

A água reluz no chão do terraço e espelha todos os passos dos preparativos, numa corrida contra o tempo: disposição dos microfones, afinação da viola, sound check, captação de fotografias. A trovoada ronda por perto e, já não restam dúvidas, vai querer participar. O aviso está dado e, para bom entendedor, …

O Tiago percebe os sinais do tempo e manda avançar o Luís, que escolhe sentar-se numa banheira deitada ao contrário. Em fundo, o jardim da Porta Nova e o silo de cereais. O primeiro tema chama-se Já houve quem nisso acreditasse. Música de intervenção no seu melhor e com cereja em cima: um trovão desaba a pontuar o final. Mais sublime não podia ser. Nem encomendado se conseguiria um milagre assim. Perfeccionista como é, o Luís vai querer ouvir a gravação e achar-lhe defeitos. Em resumo: vai querer repetir. Então, e o trovão? Esse é irrepetível! – atiram-lhe para o desarmar. Começa então a eterna discussão sobre a fronteira entre música e barulho. Quer se queira quer não, o som deste trovão já faz parte desta música. Fulminou-a! E por isso também é música, sem deixar de ser barulho. Cada um é livre de interpretar como quiser. É por estas e por outras que A música portuguesa a gostar dela própria chegou para interpelar consciências e para desconstruir ideias feitas sobre o que é a música, neste caso a música portuguesa. Afinal, como diz o Tiago, o mais importante é o som, incluindo o da fúria dos elementos.

Um relâmpago estala num pára-raios próximo. Avaliam-se as condições, entreolhamo-nos todos e decidimos arriscar de novo porque o tempo urge. Saímos para a rua, correndo de beiral em beiral, entre os pingos da chuva, com o refrão do segundo tema ainda a ecoar: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 // Há ratos por todo lado // Nos armários, na retrete //.

Filipe Sousa

 

Ficha Técnica
Luís Martins
Moura / R. 9 de Abril // 16.00 // gravações
Música de intervenção

Alinhamento
Já houve quem nisso acreditasse
Ratos

Realização
Tiago Pereira

Som
Telma Morna

Fotografia
ADCMoura

Produção
ADCMoura

 

 

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