TRAPOLOGIA

Nasceu em Safara, em Maio de 1932. Ainda miúda, aprendeu a arte da trapologia com a tia Maria do Carmo (a Angerinha), nos intervalos em que ajudava o pai

na antiga mercearia Lico, situada na praça central da aldeia. Em 1954, os seus pais mudam-se para Lisboa, à procura de melhor vida, e Solange segue-lhes os passos. A família encontrará novo rumo à frente da pensão Alentejana, no Campo das Cebolas, mesmo ao lado da Casa dos Bicos. A pensão cedo se torna passagem obrigatória dos conterrâneos alentejanos, sobretudo os da “margem esquerda”, que partem à aventura para terras de França. No ano seguinte, é admitida numa fábrica de óculos, bem perto da pensão. A vida nunca foi pêra doce para Solange, mas nessa altura tudo se torna mais difícil. «Imagine que antes de ir para a fábrica tinha de deixar quinze, dezasseis quartos limpos e arrumados. E depois, quando regressava, voltava a ajudar os meus pais – enfatiza.» Tempos difíceis que a não impediram de lutar pelos seus sonhos e ascender a contabilista na mesma fábrica de óculos da qual se reformou em 1995. Daí para cá, dispõe de mais tempo para se dedicar à sua arte que nunca se habituou a tratar por patchwork. Da sua imaginação nascem sacos, pegas, bancais e colchas, em que os diversos retalhos são «alinhavados ao molde e depois cosidos à mão por trás». A Solange faleceu no Verão de 2016.