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366 dias depois, a Horta

Ao fundo da ladeira da rua das Hortas, em Moura, existe um oásis a justificar o topónimo. Um lugar aprazível, como devem ser todos os oásis, onde não faltam um tanque de água fresca…com peixes! e zonas de sombra oferecidas, nestes dias quentes de Outubro, por um chorão, um lódão-bastardo, uma oliveira, uma figueira e umas quantas romãzeiras aos doze hortelãos que o utilizam em regime de gestão comunitária. Falamos da Horta da ETAR, uma pequena amostra do património agrário do Mediterrâneo, que beneficia da proximidade dos ricos solos de aluvião, onde o rio da Roda se encontra com a ribeira de Brenhas, e da água de nascente proveniente do Castelo. Esta como outras hortas de Moura reúnem condições excepcionais nestas terras do Sul ameaçadas pela desertificação, que foram sabiamente aproveitadas ao longo dos séculos e até há muito pouco tempo por gerações de hortelões, tornando Moura auto-suficiente na produção de frutas e hortícolas. Porém, a situação alterou-se e estes mesmos produtos chegam agora de fora, alguns de muito longe, para rechearem as prateleiras das grandes superfícies. Sinal dos tempos, as últimas horteloas deixaram de vender no Mercado Municipal e restam dois ou três produtores que abastecem o pequeno comércio. É um facto que as pequenas hortas periurbanas perderam importância, mas existe a esperança de que melhores dias virão. Precisam sobretudo de uma oportunidade, que, ironia das ironias, pode ser dada pela actual crise, a tal que, mais cedo ou mais tarde, nos vai obrigar a voltar à terra, à agricultura, para produzirmos os nossos próprios alimentos. Este foi o ponto de partida de um projecto formativo que teve a horta como cenário da componente prática e que decorreu entre 10 de Outubro de 2011 e 8 de Fevereiro de 2012, com supervisão da ADCMoura – Associação para o Desenvolvimento do Concelho de Moura e colaboração da Câmara Municipal de Moura, Segurança Social e Centro de Emprego de Moura. Visava-se, em traços gerais, mobilizar e aumentar as competências pessoais, sociais e empreendedoras de doze pessoas que enfrentam situações de desfavorecimento, através do contacto experimental com o mundo do trabalho associado neste caso à produção agrícola e ao cultivo de uma horta colectiva, permitindo por essa via a tão desejada qualificação e inserção sócio-profissional dos formandos, sem esquecer as dinâmicas de ordem económica e ambiental que esta intervenção pode ajudar a lançar. Como resultado deste processo, encontramos hoje na horta três formandos que deram continuidade a esta actividade, aplicando os conhecimentos adquiridos, dando nota da sua integração social e retirando ao mesmo tempo benefícios económicos da exploração dos respectivos talhões. Os restantes nove talhões foram posteriormente atribuídos a pessoas que revelaram interesse e algumas ainda necessidade em tirar partido do projecto: três desempregados, dois reformados, quatro activos por conta de outrem. Entretanto foram desenvolvidas diversas actividades que ajudaram a melhorar a horta e ao seu reconhecimento junto da comunidade local e mesmo nacional. Das relacionadas com o cultivo propriamente dito dos talhões às questões que dizem respeito à gestão colectiva de espaços e equipamentos, passando pela organização de formações e workshops, produção de documentos (regulamentos, guias, plano de exploração, etc), gestão deste mesmo blogue e iniciativas com o exterior (por exemplo, visitas de escolas e visitas de produtores agrícolas), todas têm contribuído para afirmar este projecto e para chamar a atenção dos mourenses para um património que é seu e que necessita de ser aproveitado em prol do desenvolvimento local, em benefício da comunidade, conjugando aspectos de natureza social, económica, ambiental e política.Neste momento, existem nove pessoas em lista de espera para ingressarem na horta, o que dá bem a ideia do sucesso deste projecto junto da comunidade local e da necessidade urgente de ampliarmos o espaço actual da horta comunitária.

in http://ruadashortas.blogspot.pt/2012/10/366-dias-depois.html

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