O processo de digitalização está mais presente que nunca nas nossas vidas quotidianas, na vida das organizações e na sociedade em geral. Sendo causa de várias transformações de grande escala, representa uma fonte simultânea de oportunidades e riscos. Por exemplo, a centralidade das Tecnologias de Informação e Comunicação no mundo actual, sobretudo da Internet, converte-se em info-exclusão para aqueles que não têm ou possuem um acesso limitado à Rede, assim como para aqueles que não são capazes de tirar partido das suas potencialidades, seja na procura de emprego, no acesso a serviços em linha ou, simplesmente, para fazerem parte da sociedade e nela participarem como cidadãos de pleno direito.
Entre os excluídos e todos os que apresentam dificuldades de integração no ecossistema digital, contam-se os idosos, as pessoas com deficiência, os jovens em risco, as pessoas com fracos rendimentos, as pessoas com pouca instrução, os desempregados, os imigrantes, as minorias étnicas.
Muitas destas pessoas vivem em meios desfavorecidos, como os bairros que são objecto de estudo e de intervenção do projecto My Smart Quartier(Erasmus +): Sete e Meio, em Moura (Portugal), Canourgues, em Salon-de-Provence (França), Mirafiori-Sud, em Turim (Itália) e Albors, Alginet, Montserrat, Benimaclet e Poblats Maritims, em Valência (Espanha).
Conhecer no terreno as debilidades destes públicos em termos de literacia digital bem como recolher informação sobre os seus hábitos de participação e ainda sobre as suas percepções quanto ao papel das TIC, especialmente da Internet, no exercício da cidadania em geral e nos bairros em particular, é um dos objectivos do projecto que junta numa parceria internacional seis organizações com historial no domínio da inovação social e da formação de adultos: para além da ADCMoura (Portugal), participam a ESC2 Associados (França), Município de Salon-de-Provence (França), Associação para a Animação e Gestão dos Equipamentos Sociais de Canourgues (França), Universidade Politécnica de Turim (Itália) e Universidade Politécnica de Valência (Espanha).
No entanto, a investigação não se limita ao diagnóstico. Contempla também o desenho de soluções inovadoras, incluindo recursos humanos treinados (tutores de bairro) e recursos pedagógicos adaptados de promoção da participação cidadã e colaborativa, para capacitação das comunidades locais.
Ou seja, os destinatários directos do projecto são mediadores que operam no terreno, e que verão as suas competências reforçadas através da criação de novas ferramentas metodológicas e pedagógicas.
Por seu lado, os habitantes dos bairros, enquanto beneficiários finais, participam também activamente na construção dos guias metodológicos e módulos de formação, orientados à inclusão e literacias digitais.
O aumento das competências digitais e participativas dos habitantes dos bairros far-se-á no contexto de um roteiro de intervenção comunitária e em comunidades de aprendizagem capazes de reflectirem as necessidades concretas de formação contínua de cada grupo prioritário, com o recurso a modelos dialógicos de aprendizagem e metodologias criativas e participativas.
Nesta área, destacam-se os recursos associados às TEP – Tecnologias para o Empoderamento e a Participação, que mais não são do que a adaptação das TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação às temáticas da e-governação, democracia electrónica e ciberdemocracia.
Todos estes temas associados à necessidade de criação de recursos pedagógicos inovadores para combater a fractura digital foram abordados, em profundidade, no âmbito da mobilidade formativa que decorreu em Valência, em Espanha, entre os dias 8 e 13 de Abril.
Organizada e ministrada por professores do Grupo de Investigação e Inovação em Metodologias Activas da Universidade Politécnica de Valência, teve como objectivo a formação dos técnicos das entidades parceiras em metodologias criativas e participativas para disseminação nas respectivas comunidades locais.
Foram também abordadas, por entidades convidadas a falar dos seus projectos (Universidade Sénior, Polícia Nacional e Valência TechCity) ou em visitas a diferentes locais de Valência, algumas das implicações da digitalização em áreas como qualidade de vida, cibersegurança e empreendedorismo.
No capítulo de gestão das smart cities e de criação de espaços públicos baseados na participação cívica, os participantes puderam conhecer o projecto da Marina de Valência, assim como os projectos desenvolvidos pelo Centro de Inovação Les Naves e pelo consórcio AVASEN.
A segurança portuária justificou uma interessante visita às instalações do porto de Valência, um dos de maior tráfego da Europa.
Já na área da participação cidadã, foi apresentado o projecto do Orçamento Participativo de Valência, na sede do Município.
O programa incluía também visitas aos bairros valencianos que integram o projecto, nomeadamente as associações culturais e de vizinhos que, com iniciativas desenvolvidas em diferentes áreas, dão mostras de um envolvimento comunitário forte.
A próxima mobilidade formativa terá lugar em Marselha (França), entre os dias 7 e 12 de Outubro deste ano.