A minoria menos amada de Portugal?

“Muitas vezes o cigano não é bem aceite. Por culpa da pessoa ou da comunidade, ele continua a ser excluído.”

 António Pinto Nunes, Presidente da Federação Calhim Portuguesa, Jornal Publico, 24/06/2010


Os ciganos constituem a minoria menos amada em Portugal, apesar de estarem no país há mais de 500 anos, sendo que os maiores problemas da comunidade continuam a ser os de relacionamento. Serão entre 40 mil a 80 mil os ciganos portugueses. Ninguém sabe ao certo uma vez que os censos não permitem referências à etnia. De ascendência Rom, Sinti, Manouch ou Calé, chegaram a Portugal no século XVI sendo, desde então, objeto de perseguições.

Os estereótipos negativos que se criaram em torno dos ciganos são, segundo o antropólogo André Correia, do Centro de Estudos Territoriais do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), consequência daquilo que lhes foi feito no passado como as ações de extermínio durante o tempo da Monarquia em Portugal.

O afastamento da comunidade cigana e a crescente desconfiança para com uma comunidade com hábitos e tradições próprios contribui para a construção e cristalização de um estatuto depreciativo, com um fecho dentro de uma determinada imagem que os define como problemáticos e barulhentos. E de onde vem isto? Do desconhecimento porque todos parecem saber como são, mas são poucos os que se dão com eles.

Para comprovar o preconceito apontamos o caso do Rendimento Social de Inserção (RSI) e de outros rendimentos que vêm do Governo. A ideia de que só os ciganos é que os auferem, é errada conforme revela o Quadro de Rendimento Social de Inserção (RSI). Segundo o “Relatório das Audições Efectua­das sobre Portugueses Ciganos”, disponibilizado pelo Instituto da Segurança Social, a população cigana representava aproximadamente 6,4% em 328.919 de beneficiários do RSI, valor pouco expressivo no universo dos beneficiários desta medida (http://goo.gl/8vJyTC). E a tendência é para que estes valores desçam em virtude dos novos critérios de rigor na atribuição das prestações, garantindo que somente aqueles que efetivamente se encontram em situação grave de carência económica tenham o apoio necessário.

Vários relatórios nacionais provam que os preconceitos, a discriminação e os mitos são fatores de peso na relação da sociedade com os ciganos. Os mesmos relatórios identificam prioridades: escolarização, ensino, formação. É certo que algumas dificuldades na escolarização se encontram na própria tradição cultural dos ciganos. Mas a sociedade não pode admitir tal reserva como inevitável para justificar a falta de ação, até porque há vários projetos de educação e formação, também orientados para meninas e mulheres ciganas, que têm obtido sucesso notável. Felizmente cada vez mais ciganos, homens e mulheres, constatam que o ciclo da pobreza e discriminação se pode “furar” com mais estudos e conhecimentos e que, afinal, estudar e aprender não põe em causa a sua cultura e identidade próprias.

Urge desconstruir estereótipos e construir conhecimento. E este só é possível na base da aceitação, tolerância e coexistência nos mais diversos espaços de sociabilidade: do trabalho ao hospital, do jardim à escola, da segurança social ao bairro. Um dos desafios de hoje é pensar a diferença a partir da própria diferença, sem que isso implique uma inferiorização ou um domínio sobre o “outro”.

 

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