O Ensino Escolar para a Comunidade Cigana

Apesar das fortes tradições culturais, as comunidades ciganas encontram-se imersas num processo de mudança em que há várias vozes em diálogo: a voz da tradição cultural, a voz dos modelos veiculados pela comunidade envolvente e pelas instituições e vozes de diálogo entre as 2 anteriores. E esta mudança é bem visível na relação entre a comunidade cigana e a escola, onde os jovens começam a falar do futuro e das suas expetativas em trilhar caminhos diferentes daqueles que tradicionalmente se percorrem nas suas comunidades de origem.

Por tradição, a comunidade cigana tende à procura de atividades onde a experiência prática ocupa um papel fundamental. É por isso que os conteúdos programáticos da escola não desperta, numa parte dos alunos, interesse uma vez que não reveem no conhecimento teórico os instrumentos de que necessitam para o desempenho das futuras tarefas laborais. Contudo, esta representação negativa do ensino e das suas contrariedades tende a ser substituída pela consciência das suas vantagens.

Atualmente, um número significativo de famílias reconhece que, para melhorar de vida, a escola é importante – e até mesmo muito importante – ainda que a inserção no mercado de trabalho possa vir a ser dificultada pelos estereótipos negativos associados à comunidade de pertença. Junto de pais e avós é possível constatar as expectativas em relação às mais-valias que o conhecimento poderá trazer às novas gerações. É um facto a existência de famílias com forte apego pela tradição e que ainda demonstram algumas reservas com a continuidade dos estudos, no entanto, a larga maioria dos agregados não desejam que os descendentes continuem nas mesmas atividades profissionais e por isso incentivam a permanência dos jovens nas escolas para que estes consigam encontrar um emprego.

Junto de algumas crianças é evidente a vontade de prosseguir os estudos,  o desejo de superar as expetativas e de chegar a um nível de literacia mais elevado que lhes permita alcançar uma carreira profissional. O Estudo Nacional sobre as Comunidades ciganas revela que 57,5% das famílias ciganas tem filhos e/ou netos a frequentarem a escola. Segundo este mesmo estudo, 53,6% das crianças ciganas gostam de frequentar a escola, 52,2% gostam dos professores e 54,5% gostam da convivência com outros colegas da escola.

Atualmente são descritas cada vez mais histórias de portugueses ciganos, ciganos com estudos superiores que assumem a adaptação das tradições ciganas aos valores culturais e simbólicos da sociedade maioritária, permitindo-lhes identificar-se simultaneamente com as duas culturas, abrindo caminhos para a possibilidade de se sentirem integrados na sociedade sem que haja diluição da sua identidade cigana.

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